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Mostrando postagens de outubro, 2020

31/10/2020

195.  Da Lua Azul,  James Bond acena glamouroso. Das sacadas, estrelas contemplam o céu enfeitiçadas. 

30/10/2020

194.  Chorava todos os dias. Logo todos se acostumaram. Até o dia em que gargalhou pela primeira vez e todos correram em direção a urna.

29/10/2020

193.  Cansada de trabalhar e esperançar, pulou dentro do livro para uma viagem sem volta. 

28/10/2020

192.  Trabalhou muito. Pausas curtas: café, banheiro, refeições. De noite lembrou que era o seu dia e dos que o chamavam vagabundo. Podia escrever textão nas redes sociais. Preferiu banho e sono. Sempre  dormiu limpo de corpo e de consciência. 

27/10/2020

191.  Ele aprendeu cedo com a mãe a teimar. O vocábulo r esiliência conheceu muito tempo depois, quando de tanto teimar, já tinha realizado o sonho de um Brasil sem fome.

26/10/2020

190. N a Plaza de la Dignidad floresce a  Democracia e perfuma o Chile, na Praça dos Três Poderes cresce a Tirania e infesta o Brasil. De um lado acena Allende; do outro, Médici.

25/10/2020

189. E nquanto ele faz a declaração, surge um arco-íris, um aplauso vindo do céu ao maior porta-voz do amor. E jamais haverá trovão na Terra capaz de calar a sua voz.

24/10/2020

188.  Diante do "Que você vai ser quando crescer?", ele silenciava. Não queria crescer e desejava que todos seguissem meninos assim iguais a ele. Quando o viu saltar de dentro dele para colorir o papel, realizou o seu sonho menino maluquinho. 

23/10/2020

187.  Os homens a golpearam, cortaram os seus cabelos, jogaram tinta vermelha sobre o seu corpo. Estúpidos ignoraram que coragem é palavra feminina. 

22/10/2020

186. C ultivou com amor. Nunca semeou ódio por ninguém, nem mesmo pelos vizinhos que arrancaram flores e pisotearam margaridas. "No mundo impregnado de pragas está dificil florir", pensou ela ao saber da aposentadoria do jardineiro.

21/10/2020

185.  Muitos duvidaram que chegasse a algum lugar com o passo despacito e com o peso dos sonhos a encurvar as costas. Esqueceram que era movido pela coragem que tornava leve qualquer sonho. 

20/10/2020

184.  Notou que o seu nome rimava com o da colega e sorriu. No sarau, quando uma declamou, a outra percebeu a rima formada pelos dois nomes. E a vida, que andava  precisando de um verso, ganhou toda uma poesia.

19/10/2020

183.  Er a um grande craque dentro do futebol. Infelizmente ele não era digno de medalha,  taça, aplauso, porque fora do seu campinho, pisava na bola; não sabia reconhecer se o momento era para o gol ou para a bola fora.  

18/10/2020

182. Um dia, menina, estetoscópio de plástico, em voz alta faz o tum tum dos corações das bonecas. No outro, mulher, estetoscópio de alumínio, ausculta corações de bebês. Permanece com o mesmo olhar amoroso e sente o mesmo tum tum acelerado dentro dela.

17/10/2020

181.  Sempre a tive como modelo de beleza. Faz muito tempo que a imito. Compro as roupas nas lojinhas, bem parecida às dela de griffe; as joias compro réplicas em bijuterias. Agora vou procurar o novo modelo de tornozeleira. Hei de encontrar! Glória a Deus! 

16/10/2020

180. Ninguém entendeu o choro dele diante da televisão. O menino explicou soluçando que tava com muita pena do tio Manuel, o dono da bodega da esquina, porque ele sempre contava as notas colocando o dedo na boca.

15/10/2020

179.  Noite mal dormida pelas contas a pagar, pelas tarefas a corrigir, pelas aulas a planejar. Acordou atrasado, o "parabéns, professor!" veio em coro com cartazes coloridos diante das câmeras. Bastou para dentro dele nascer o dia de festa. 

14/10/2020

178.  Menino aprendeu a pescar. Nunca gostou de fazer silêncio. Gostava mesmo era da conversa com o avô até chegar ao lago. Hoje, enquanto ele ensina o neto a colocar a isca no anzol, enxerga o velho avô refletido no lago. 

13/10/2020

177.  Durante a pandemia, o mesmo ficcionista que afugentava os clichês, na vida real, queria abraço e frase clichês.

12/10/2020

176.  Estica o manto para alcançar o ponto mais alto da cidade. A bênção toca o morro, onde o povo, nutrido de fé, reza por dias sem fome.

11/10/2020

175.  Aquela manhã não quis olhar o espelho, nem sequer abrir a janela. Pegou o baú embaixo da cama. Abriu. No quarto, amanheceu. Os olhos arderam diante do lume das cartas de amor empoeiradas.

10/10/2020

174.  A passagem do tempo não estava nas linhas de expressão do rosto dele, nem nas páginas do calendário que ele jogava no lixo reciclável. Mas na coleção de saudades que iam se acotovelando dentro dele e lhe causavam as dores no peito.

9/10/2020

173.  Guardou o jornal por vinte anos para jamais esquecer a data. Até que esqueceu onde o havia deixado. Não importava. A lembrança  estava dentro dela. 

8/10/2020

172. O Rei discursou contra a nudez, falou, sorridente e nu, acompanhado da família dele, também sorridente e nua. Entre os plebeus alguns enxergaram vestes nos sempre despidos de roupa e de vergonha.

7/10/2020

171.  Em busca de calmaria, mergulhou nos olhos verdes mar. Encontrou um tsunami. Conheceu o prazer nas ondas gigantescas.  Nunca mais desejou água parada.

6/10/2020

170.  A mulher fechou os olhos para provar a fruta. Por um instante se viu menina trepada na árvore. Ouviu até o "desce daí, vem tomar café!" A pitanga estava azeda. Mas a lembrança sempre será doce.

5/10/2020

169.  O decote da camiseta branca da professora estimulou a manhã de estudos do guri que precisou desligar câmera e microfone para uma visita rápida ao banheiro.

4/10/2020

168. Ela gostou da foto e do nome.  Despediu-se dos cães e gatos como menina  quando vai ao parque. Na frente do restaurante, Francisco desprezou mendigo e cachorro. O  nome era uma antítese, ela deu as costas, sem se apresentar. 

3/10/2020

167. "N asci careca", dizia ela rindo, enquanto lhe raspavam a cabeça. Nem uma mecha de fé caiu, nem uma franja de esperança foi raspada. Diferente dos fios de cabelo, nasceram com ela.

2/10/2020

166.  Antes de dormir, o pai sempre lhe dizia: "dorme com os anjinhos". Ela deixava até espaço na cama para abrigar os querubins. Demorou a descobrir que anjo não era só criança. Hoje sonha com o pai.

1/10/2020

165.  O soprar canela no primeiro dia de cada mês se repetiu em sua vida por longos anos.  Até o dia em que abriu a porta com o potinho nas mãos e esqueceu.