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Mostrando postagens de agosto, 2020

31/08/2020

134. Após 60 dias, resolveu calcular o número de passos percorridos: da cadeira ao sofá; do sofá à cama; da cama à cadeira; do sofá, da cama e da cadeira ao banheiro; todos até a cozinha. Sorriu ao ver o resultado na calculadora. Sempre quis fazer trilhas! 

30/08/2020

133. Pitágoras jamais imaginou que um dia o número sete sagrado perfeito poderia ser o escolhido para fuzilar alguém pelas costas, tornando-se número profano indefectível. A matemática nem sempre é lógica. 

29/08/2020

132. A saudade lhe chega todos os dias, como de qualquer amor vicioso. Faz o que na companhia dele não conseguia: respira. Finge o gesto da companhia entre os seus dedos. Ela resiste. Inspira. Assopra o vento. Agradece a vida. 

28/08/2020

131. Deus deve estar acima de tudo mesmo. Bem longe da Terra. Bem no alto do céu não escuta o seu nome em vão por quem semeia o ódio.

27/08/2020

130. Nasceu querendo ser luz. Desejava iluminar a estrada para que o peregrino pudesse enxergar pegadas e traçar novos rumos. Pensou em ser artista, religiosa, mas não era bem isto. Decidiu o rumo ao conhecer Freud.

26/08/2020

129. Foi de Maria Chuteira, top model, influencer a cancelada. Uma manhã acordou decidida: saiu de todas as redes sociais, despiu-se de todos os rótulos e optou por ser gente. Não de bem. Só gente de verdade mesmo.

25/08/2020

128. Foi batizada com nome de flor. Cresceu querendo ser perfumada. A vida toda pestilenta tal enxofre. Desejou as pétalas. Para sempre seria toda espinho. 

24/08/2020

127. O anão, honrado e rejuvenescido com o colo do presidente, é considerado mais uma testemunha viva do espírito inovador do governo, além da Ema, é claro.

23/08/2020

126. Boitatá e Curupira aguardam por quem não vai até a floresta e nem sequer os conhece. Deve conhecer as lendas do Pé Grande e do Demônio de Jersey. Se diz patriota e despreza a Amazônia.

22/08/2020

125. O corpo da mulher não tem dono, repetia ela, balbuciando como ladainha, mantra, reza, enquanto escrevia com o estilete sobre o peito masculino.

21/08/2020

124. Coloca as duas mãos sobre o teclado. A cada novo toque, vai escutando a melodia da narrativa a nascer.

20/08/2020

123. O capitalismo criativo amplia a função dos objetos: o guarda-sol, objeto para proteção, agora é também de abandono. A economia segue crescendo, o supermercado lotado e o funcionário invisível.

19/08/2020

122. Anoitece e o menino segue percorrendo o pátio nas duas rodas como se dono do mundo fosse. De manhã retirou a terceira rodinha. O dia foi tão veloz quanto ele.  

18/08/2020

121. Era verão quando o Botão morreu. A Formiga espalhou: a culpa é da flor. Todos acreditaram. Retiraram as pétalas da Rosa, puxaram o caule, jogaram no chão. Entre as árvores, o Pulgão, sendo abanado com uma folha pela Formiga, gargalhava.

17/08/2020

120. Resvalam na lama da hipocrisia, enquanto a menina sofre a dor do feminino na carne. 

16/08/2020

119. O vai e vem na varanda despertava a menina adormecida a olhar a vizinhança e imaginar histórias. Não quis escrever no celular, buscou caderno e lápis. Ninguém entendeu a compra da rede antes de assinar o contrato da compra da casa. 

15/08/2020

118. Retalho de renda e pedaço de fita de cetim transformados em vestido de boneca. Ao terminar, fez o laço na cintura e ouviu a gargalhada. Naquela manhã brotou dentro dela uma alegria há muito distante. 

14/08/2020

117. Noite de bodas em restaurante sofisticado. A companhia no celular nem olhava para ela. Encontrou, na mesa ao lado, aquele olhar que desnuda. Jamais imaginara uma estreia tão excitante para a lingerie. 

13/08/2020

116. No português brasileiro, considera-se antigo: Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Atual: Ozônio no orifício dos outros é drinque. Em caso de espirro é antigo: Saúde! Atual: vai tomar no ... A língua segue em movimento e o povo segue em retrocesso.

12/08/2020

115. Passou o dia a visitar museus virtuais. Não leu o jornal. Quis esquecer da crueldade do presidente. Veio o pesadelo no quadro de Goya. Bolsonaro era o Saturno e a criança era o seu menino.

11/08/2020

114. Na escola conheceu as letras. A infância ganhou leveza e magia. Poderia, enfim, libertar as suas histórias trancafiadas.

10/08/2020

113. Fez uma campanha sincera e bem sucedida: o gesto transformado em realidade. O cheiro da pólvora ficará para sempre impregnado nas garras podres do urubu.

9/08/2020

112. Um dia ele lhe disse que o cordão entre eles não era o umbilical, era o de três dobras e prometeu jamais abandoná-la A filha demorou a entender como um cordão poderia perdurar além da vida. O pai era mesmo um homem de palavra.

8/08/2020

111. Não queria. Olhei a foto. Fui imaginando o chegar mansinho a aplicar Reiki ou ágil a praticar salto em altura. Mago e atleta sempre foram meus tipos. Logo vai me hipnotizar ronronando.

7/08/2020

110.  Feliz aniversário para quem acredita que a poesia está para a prosa, que gente é pra brilhar não para morrer de fome, que tem coração que balança um samba de tamborim. Coisa mais bonita é você, Caetano Veloso! 

6/08/2020

109. A frase preferida dele era "amanhã eu faço". Assim foi empurrando a vida... Quando ela estava por um fio, puxou com cuidado e voltou a tecer. Ainda havia tempo.

5/08/2020

108. Demorou para arrancar as folhas. Admirou, com cuidado, as paisagens para abril, maio, junho e julho. As páginas picadas de um tempo esquecido repousam no lixo reciclável. 

4/08/2020

107. A Trema extinta tentou suicídio. Saltou, mas caiu de pé. Desde então, segue uma vida mais filosófica, entre falas, citações e esclarecimentos.

3/08/2020

106. Dançam ao som do berimbau, a agilidade dos corpos carrega a luta por liberdade. "A capoeira é um jogo, é um brinquedo, é se respeitar o medo, é dosar bem a coragem", ao longe, Marielle Franco, abraçada aos seus ancestrais, canta a ladainha.

02/08/2020

105. É agosto. Na agenda, as reuniões virtuais cutucam as festas riscadas, trazendo o bullying a sua quarentena.

01/08/2020

104. Adormecera farto do leite dela por anos. A mãe acreditava que assim amanheceriam nutridos de amor por toda a vida. Quando doente, recebeu colheradas de comida em sua boca e o mesmo olhar de intimidade de seu bebê.