Postagens

Mostrando postagens de julho, 2020

31/07/2020

103. Ele quer calar vozes, quer perseguir o amor, quer libertar o ódio, quer congelar o país tropical. Mas o sol, escondido entre as nuvens, insiste em pedir passagem.

30/07/2920

102. O amor nascido com filho não tem pênis ou vagina. Brilha e ofusca quem de luz nada sabe. Diante de afeto, protesta quem desconhece pura ternura tão natura.

29/07/2020

101. Abriu a caixa da boneca e encontrou o cheiro doce imaginado. A menina, escondida dentro dela, reaparece saltitante pela casa. 

28/07/2020

100. Ao ler as últimas notícias, o Gafanhoto, famoso até nas histórias bíblicas, resolveu juntar os comparsas para terminar com o sucesso da Ema emergente.   

27/07/2020

99. Mãos mágicas o erguem como se troféu fosse, aguarda o choro, observa o minúsculo corpo para entregar aos braços plenos de esperamor com o discreto sorriso, percebido no olhar atrás da máscara. 

26/07/2020

98. Aprendeu sobre o amor entre flores, temperos, lãs e linhas. Hoje ela deve plantar, temperar, tecer, costurar em outro recanto. Brindou em sua homenagem com uma taça de vinho tinto sabor saudade. 

25/07/2020

97. Sente o vazio das histórias por nascer, das árvores por plantar, das estradas por percorrer. A prosa e a poesia voam dos seus livros para alcançar caminhos arados de sonhos. 

24/07/2020

96. A Ema olhou. Não acreditou no que viu, pensou tratar-se de problema de visão. Consultou com oftalmologista no Reino Animal. Com a visão em perfeito estado, lamentou pelos humanos cegos bebedores de cloroquina.

23/07/2020

95. A escrita era menina aprendendo a caminhar, com passos lentos e corajosos, traçava a liberdade. 

22/07/2020

94. O soco dói, a palavra punhal dilacera. Calada e ferida, diante do espelho, busca nos olhos roxos a mirada confiante da adolescente que foi um dia.

21/07/2020

93. Peitos inflados expiram a arrogância, em rostos sem máscara que espalham o vírus maldito da negligência vergonha nacional. 

20/07/2020

92. A margarida solitária encurvada, ao ver o nascimento das flores altivas, ergueu o corpo como se em uma passarela estivesse. As companheiras a perfumaram e a ajudaram a esquecer o bem-me-quer, mal-me-quer.

19/07/2020

91. A Ema, sempre calada nas reuniões sindicais do Reino Animal, tornou-se liderança respeitada por atitude altruísta e valente, em confrontos ocorridos nos últimos dias. 

18/07/2020

90. O vento frio invade as frestas da janela do ateliê. Na tela, as cores aquecem, enquanto o chá da visita, que nunca lhe chega, esfria no bule.

17/07/2020

89. Conexão no celular tem de sobra, falta é na vida mesmo. 

16/07/2020

88. Molda o corpo ausente nas dunas costeiras. Ao lado da escultura cava um buraco onde mergulha os dedos. O sal do mar tem o gosto da saudade que o vento forte jamais carregou.

15/07/2020

87. Joelhos dobrados, olhos acompanham dedos, percorrendo o colar no desespero da busca pelas palavras e pela fé. 

14/07/2020

86. Amanheceu muito bossa nova, nem viu o dia do rock nascer.

13/07/2020

85. Na agenda preenchida havia a sombra de uma vida a implorar espaço. 

12/07/2020

84. Com o biquíni e o roupão apeluciado, abacaxi, tapioca, cocada, bolo de milho e fotos do Nordeste sobre a mesa, viajou a turista gaúcha na pandemia.

11/07/2020

83. A máscara roxa, que oculta lábios feridos, realça a dor em seus olhos maquiados.

10/07/2020

82. Diante do idioma distinto enigmático decidiu decifrar a legenda em seu corpo.

9/07/2020

81. Preparou o mate. Sentou na cama, bem no cantinho, onde entrava um gomo de sol com a fruta no prato, descascou, comeu. Reuniu as amigas em ligação por vídeo. E a tarde fria ganhou um calorzinho.

8/07/2020

80. O homem desperta com o relâmpago feito o grito de socorro da mãe na casa destelhada a latejar na sua memória de menino.

7/07/2020

79. As grossas sobrancelhas da mulher formam um pássaro, as asas saltam da tela, sua arte liberdade fascinará o mundo. 

6/07/2020

78. Mergulhou no merengue, creme de ameixa e doce de ovos como nos olhos verdes de mar, imaginou as camadas de pele e as saborosas duas polegadas a mais.

5/07/2020

77. Apesar de luminária de globo, incenso de alfazema, chá de camomila, a vida seguia sombra, tensão e frieza.

4/07/2020

76. Aproximou o bebê do rosto, aspirou o corpo miúdo. Caso perdesse o olfato, o cheiro seu seria alento sempre. 

3/07/2020

75. No sofá da mansão contempla um mundo rosa que na calçada o mendigo jamais viu. 

2/07/2020

74. Tanto esticaram a Ponte que ela virou Trilho. 

1/07/2020

73. No país místico, onde o povo aprendeu a viver, sem ter a vergonha de ser feliz; nasceu um dia a Pedagogia da Esperança. Hoje, maltratada e perseguida, sobreviverá, porque aprendeu a andar com fé.