103. Ele quer calar vozes, quer perseguir o amor, quer libertar o ódio, quer congelar o país tropical. Mas o sol, escondido entre as nuvens, insiste em pedir passagem.
102. O amor nascido com filho não tem pênis ou vagina. Brilha e ofusca quem de luz nada sabe. Diante de afeto, protesta quem desconhece pura ternura tão natura.
100. Ao ler as últimas notícias, o Gafanhoto, famoso até nas histórias bíblicas, resolveu juntar os comparsas para terminar com o sucesso da Ema emergente.
99. Mãos mágicas o erguem como se troféu fosse, aguarda o choro, observa o minúsculo corpo para entregar aos braços plenos de esperamor com o discreto sorriso, percebido no olhar atrás da máscara.
98. Aprendeu sobre o amor entre flores, temperos, lãs e linhas. Hoje ela deve plantar, temperar, tecer, costurar em outro recanto. Brindou em sua homenagem com uma taça de vinho tinto sabor saudade.
97. Sente o vazio das histórias por nascer, das árvores por plantar, das estradas por percorrer. A prosa e a poesia voam dos seus livros para alcançar caminhos arados de sonhos.
96. A Ema olhou. Não acreditou no que viu, pensou tratar-se de problema de visão. Consultou com oftalmologista no Reino Animal. Com a visão em perfeito estado, lamentou pelos humanos cegos bebedores de cloroquina.
92. A margarida solitária encurvada, ao ver o nascimento das flores altivas, ergueu o corpo como se em uma passarela estivesse. As companheiras a perfumaram e a ajudaram a esquecer o bem-me-quer, mal-me-quer.
91. A Ema, sempre calada nas reuniões sindicais do Reino Animal, tornou-se liderança respeitada por atitude altruísta e valente, em confrontos ocorridos nos últimos dias.
88. Molda o corpo ausente nas dunas costeiras. Ao lado da escultura cava um buraco onde mergulha os dedos. O sal do mar tem o gosto da saudade que o vento forte jamais carregou.
84. Com o biquíni e o roupão apeluciado, abacaxi, tapioca, cocada, bolo de milho e fotos do Nordeste sobre a mesa, viajou a turista gaúcha na pandemia.
81. Preparou o mate. Sentou na cama, bem no cantinho, onde entrava um gomo de sol com a fruta no prato, descascou, comeu. Reuniu as amigas em ligação por vídeo. E a tarde fria ganhou um calorzinho.
78. Mergulhou no merengue, creme de ameixa e doce de ovos como nos olhos verdes de mar, imaginou as camadas de pele e as saborosas duas polegadas a mais.
73. No país místico, onde o povo aprendeu a viver, sem ter a vergonha de ser feliz; nasceu um dia a Pedagogia da Esperança. Hoje, maltratada e perseguida, sobreviverá, porque aprendeu a andar com fé.